quarta-feira, 27 de junho de 2012

Caetano Aredes Louzada e sua história de amor! Sua honestidade e respeito!





3.5. FAZENDA ESPERANÇA, ITAÚBA

Por Enéas Otoni de Aredes

Quando Constantino chegou à Fazenda Esperança com sua comitiva, Caetano era um menino. Lá foram se adaptando pouco a pouco. Ele e os irmãos trabalhavam com o pai, conhecendo gente de outros logradouros na Zona da Mata, mais tarde Vale do Rio Doce.

Havia tempo da colheita

Havia tempo do plantio.

Cada capinador novo

Era um novo desafio



Todos becos de café

Tinha homens na capina

E os moles iam atrás

E os melhores, cumo empina



O feitor via feliz

Trabalho que ia afrente

Pensava no seu quinhão

Que subia com aquela gente

A fazenda era a 4 km de Sobrália, no Córrego das Pedras. Enquanto patrimônio era Itaúba; mas quando precisava renovar as provisões tudo era buscado em Inhapim. À noite essa fazenda era festiva. Sempre um fogo no terreiro, longe do paiol e da maquinas.

Sobre namorada, Caetano não perdia tempo. Ele e Leonisia, a Mindoca, trocaram olhares, flertes inibidos, se enamoraram. Mindoca era filha de Jango.

Passou-se pouco tempo, nem amadureceu o amor, falaram em festa de noivado. Jango providenciou os melhores preparativos. Mindoca não entendeu porque Caetano não apareceu em sua casa nas primeiras horas do dia.

Mas na casa de Constantino, a história era outra.

Caetano segredou ao pai: não podia se casar com Mindoca! Ela era gorda, boa, saudável, mais bonita. Mas num passeio com seu amigo Silvestre pela estrada perto da fazenda de Tia Mariana, esposa de Joaquim Quinca Louzada, Astrogilda estava na janela, se olharam. Silvestre concluiu: "Daí que é moça pra você".

Caetano teve que se decidir e casou com Astrogilda Osório. Os pombinhos eram bem novos; ele 18 anos, ela 15 anos.

Pediu ao pai escrever uma carta para Jango, com suas sinceras desculpas. Estava realmente aborrecido e envergonhado. O pai contristado escreveu a carta e enviou a Jango. O clima de festa virou decepção.

Mas o irmão de Caetano, José Juca Louzada casou-se pouco depois com Leonísia, a Mindoca. Constantino e Jango voltaram a sorrir numa festa de arromba. Juca e Mindoca tiveram 13 filhos.

Seu outro irmão Joaquim Quinca Louzada, por sua vez, já era casado com Mariana, irmã de Astrogilda.

Já o casamento de Caetano e Astrogilda foi ao Cartório Civil de Caratinga. O acompanhamento matrimonial que escoltou os noivos foi por tração animal. Levaram três dias de ida e três dias de volta da Fazenda Esperança à sede da Comarca. Pernoitaram ida e volta em Beira Rio, Fazenda de Theóphilo Ottoni de Arêdes em Serrinha de Inhapim. A festa de casamento foi na fazenda de Quinca Louzada.

Foi essa minúcia

Que lhe ocorreu

Que até o casamento

Caetano absorveu

Caetano resolveu

Falar com seu pai

Que a troco de Ais!

Uma carta escreveu



Cheio de alegria

E sem fantasia

Caetano montou

Em ginete valente

Que inteligente

Astrogilda abordou

Até seu cavalo baio

Alegre fez ensaio

E alto relinchou



Caetano não se conteve

Em amor algum esteve

Tão agora deslumbrante

Como o amor de Astrogilda

Que viu nele guarida

É como achar um diamante



A vida amadureceu

E a ela todo amor se deu

Com tal fé e tal paixão

Que a festa de casamento

Foi de fato grande evento

Para vida e coração



Como a primeira matou boi

A festa que não foi

Tornou-se decepção

Sua vida foi Astrogilda

E ele pra ela, vida,

Como a luva na mão.

Como acontece com todo casal, a vida não foi fácil para Caetano e Astrogilda. Eles madrugavam. O café bem cedo era com batata, mandioca ou inhame cosido. Astrogilda carregava tudo num tabuleiro para a roça.

Na roça o terreno era preparado. Caetano plantava café enquanto Astrogilda, à luz de lamparina, iluminava seu caminho na madrugada. Se a lamparina negava sua luz, Astrogilda prudente carregava fósforos consigo.

Astrogilda voltava à casa, fazia almoço e repetia a cena do tabuleiro.

Em cansativo tempo

Viveram anos & anos...

E a planta cresceu

A primavera chegava

As flores alvejavam

E o fruto apareceu



O trabalho nunca é demais

Hortas, legumes e frutas,

Empregados, bois, currais,

Engenho, monjolo e lutas,

O Progresso e os capitais.

O casal entrava na roda de versos.

Caetano:

Gosto da moça gorda

Gosto da magra também

a gorda por ser bonita,

a magra por ser meu bem.



Astrogilda:

Ao vê-lo da janela

tão baixo mas tão forte

arroguei-me apaixonada

por ele até a morte.

Astrogilda faleceu em 1º Mar. 1930.

Um dia tudo parou:

Em oitavo parto chegou

Tristeza da mais dolorida.

Uma forte e linda criança

Que trouxe dúbia lembrança

Levou, da mãe, sua vida.

Caetano casou um ano depois com Otacília, e a filha Leonina que ficou sendo sua enteada. Depois de ter duas filhas com Otacília, esta faleceu. Caetano viveu o fim de sua vida com Antoninha, com quem casou dois anos e dois meses depois do falecimento de Otacília. Caetano morreu em 1965.

Caetano deixou uma herança maior de um testemunho sem par. Sua nobreza de caráter punia até os grandes ou pequenos politiqueiros. Foi um verdadeiro Louzada. Destacou-se na vida sóciopolítica de Sobrália.

Foi Juiz de Paz. Evitou muitas contendas entre ruralista por causa de divisas imprecisas e tortuosas. Chamava os discordantes em sua casa, negociava. Era mesmo respeitado.

Foi presidente de partido. Uma vez, durante as eleições, pixaram os muros de sua casa. Seus filhos irritados com tal vilipendiência suplicavam-lhe para revidar aquilo. Caetano respondeu-lhes:

“Que este muro seja herança de uma política segura e honesta de um avô para seus netos. E seja herança para que outros netos não cometam tal vandalismo aos seus adversários”.

Caetano Aredes Louzada virou nome de rua em Sobrália.

Nenhum comentário:

Postar um comentário